Estes registos pertencem à noite de ontem, a qual apliquei fisicamente uma ideia, - em pequena escala, - das muitas que me surgem, por vezes em sequência e sem necessidade aparente. Os post-its colocados numa das paredes da minha actual residência revelam isso.
Foi uma estratégia que adoptei para não me esquecer de certas ideias que me ocorrem espontaneamente enquanto leio um artigo interessante, ou desenvolvo um trabalho que entretanto nada tem de relacionado com essas tais ideias que então me ocorrem.
Esta, por exemplo, ocorreu de vários factores como o acumulado de post-its/ideias, o recente trabalho sobre a artista Janet Cardiff e por último e mais directamente ligado está o desenrolar do desenho quotidiano para a respectiva disciplina, para a qual desenvolvi vários pequenos grupos, em que num dos quais trabalhei com um jogo, normalmente de crianças, em que existem vários pontos enumerados num espaço de uma folha e, neste caso a criança, faz a sua ligação, construindo uma forma final.
Este trabalho bidimensional satisfaz-me a vários níveis, sendo um trabalho que responde por si só, em termos da sua construção no espaço da folha, numa forma que se padroniza numa espécie de constelação que se "repete".
Apesar de aparentemente não ter nenhum tipo de interesse, para mim o facto destas linhas serem feitas por outras pessoas e não por mim, importa-me bastante, isto porque sinto o meu trabalho por terminado quando coloco os pontos no espaço, ou números, distribuídos pela folha. Quando sou eu que os interligo nunca me transmite esse lado de constelação como quando existe a intervenção do outro, pois, as linhas foram determinadas por mim e não por uma força exterior, nunca alcançando o lado transcendental. Admito que este trabalho é de carácter egoísta no sentido de eu querer desfrutar dele, mas ao pensarmos em todos os outros com mais atenção, esses todos também o são. Como ainda não descobri porquê a razão desse efeito em mim, da necessidade do outro neste trabalho, continuo conscientemente a percebê-lo como intuitivo, do mesmo carácter em que distribuo os pontos na folha que também o são feitos ao mesmo nível.
Deixando então este trabalho de lado, pois também está no seu começo, voltarei de novo ao "percurso". As suas ligações com o que falei anteriormente, são bastante evidentes: pontos no espaço que se seguem uns aos outros numa sequência determinada e que, neste caso, em vez de precisar de ser perseguida pelo olhar do observador, tratando-se de uma instalação, é necessário ser percorrida pelo espectador que passa a ser mais activo, primeiro porque a dimensão ultrapassa-o fisicamente e também porque envolve a aplicação de post-its em cada ponto em que a linha começa/termina incluindo inscrições que necessitam de uma aproximação física para serem lidas.
A ideia inicial para este tipo de trabalho, seria trabalhar com a linha(percurso), colocando objectos nele. Sendo os pontos de partida/chegada enumerados com uma "legenda" num post-it de uma ideia anterior que tive e que não sei para que serve, nem como apareceu, eu pretendo colocar as únicas "pistas" que me poderão levar ao caminho da resposta como e porquê, rodeando-me dos objectos e referências que julgo terem sido importantes, ou não, que proporcionaram o surgimento dessas ideias, numa espécie de assemblage e ao mesmo tempo mapa de referências de um momento específico. A minha intenção principal não é realmente descobrir o porquê, pois isso realmente não me interessa pelas suas probabilidades perderem-se no tempo e no espaço e em conjuntos de várias realidades que se cruzam nos processos activos. A questão que me impele neste trabalho é por enquanto a exploração de todas estas ideias.
Neste registo fotográfico, pelas características espaciais e atendendo ao facto de trabalhar as ideias como objectos, nos post-its, a colocação de papéis colados no fio, que marcam, numa espécie de mapa/maquete os locais de fixação do suposto objecto/referência particular ausente, satisfez-me pois acabo por trabalhar ao nível da ideia - abstracto, tendo a vantagem de transportar para o percurso alguns objectos que muito dificilmente o conseguiria, o que neste caso seria para mim algo que faria o trabalho terminar por aí pois apesar de não procurar saber a origem da(s) ideia(s), algo o qual pretendo ter rigor é na verdade do momento, na verdade da ideia, pois ela não existe sem a presença do seu mundo.
Se Janet Cardiff trabalhava com o som, aqui a palavra é tão leve como o mesmo. Enquanto o trabalho dela foca-se numa espécie de "manipulação" do espectador a viver elementos fictícios que ela constrói para se entrelaçarem na realidade, eu pretendo misturar uma outra realidade, mas que já aconteceu um dia... ou melhor, a captação do momento fugaz, assim como os impressionistas faziam, mas neste caso das cores que pintam as ideias, ou seja, dos elementos que a descrevem mais do que ela própria. A intenção não é confundir, mas construir um percurso com elementos ausentes/evocativos numa espécie de cenário que envolve as ideias que por fim se transformam num auto-retrato mais fiel possível através de elementos que me ultrapassam tanto física como intelectualmente.